terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Das relações de poder e da dominação/submissão em geral... part two

Há pessoas que são dominantes no trabalho e nas relações de amizade e são submissas no amor...

Há muito boa gente com cargos de grande responsabilidade que pagam para uma vez por outra poderem simplesmente só obedecer e entregar toda e qualquer responsabilidade.

No meu trabalho sou considerada mandona, e tenho personalidade vincada e de líder, em casa já não sou assim... e vice-versa, no trabalho há quem não queira pensar, mas que em casa veste as calças...

Costumava dizer que se percebia muito bem essa dinâmica no quarto com a pergunta: gostas mais de despir ou de ser despido? gostas mais de tomar a iniciativa e liderar ou de te deixar levar...

Mas também há quem goste de oscilar entre as duas situações e a essas pessoas chamam-se swicthers... eu acho que tu enquadras mais aqui... não sei, diz-me tu de tua justiça.

Como é que se passa do quarto para o dia-a-dia, eu diria que quase naturalmente.

É óbvio que há regras que nunca saem do quarto, como o contacto visual directo, que na vida real é quase impossível de se viver assim, especialmente quando há miudos na equação, mas a verdade é que o respeito e a reverência e a obediência são principios que podem estar presentes 24/7.
E isso para ti não deverá ser dificil de imaginar...

Bottom line, a submissa deverá gostar e ter uma grande admiração pela pessoa que a domina, senão nunca se poria nas mãos de outra pessoa... e a pessoa que recebe essa dádiva, deverá perceber a responsabilidade que isso acarreta e terá que ser algo que goste de ter e que aprecie genuinamente.

Nem todos nascemos para isto e apenas alguns merecem o título de Doms ou Masters na minha opinião.

Se falarmos só de bdsm e não D/s a coisa é mais técnica e para mim mais simples, trata-se no fundo de uma troca quase comercial, em que a pessoa que vai inflingir a dor, a disciplina ou o tão desejado desconforto à outra terá que dominar as técnicas muito bem e tentar conhecer o seu parceiro a fundo para manter sempre a segurança e a sanidade presente.

Dou-te um exemplo muito simples, e que mostraste alguma curiosidade.

Se alguém gosta da ideia de cera quente mas que nunca experimentou... tudo bem, mas a pessoa que vai brincar com isso deverá ter em conta um conjunto de princípios basilares:

Nunca deve fazer isso a ninguém sem antes ter experimentado; mais não seja para saber o que se sente e o que se dói;

as primeiras vezes serão sempre em sítios com mais resistência à dor, como nas costas, na parte da frente das coxas, e só mais para diante o peito, e as zonas mais intímas.

terá que se observar a quantidade de parafina da vela... quanto mais puras, mais doem...
será sempre uma vela branca para começar, as vermelhas e as negras são as que doem mais, por causa do que as torna coloridas...

nunca deverá ser uma brincadeira com mais de quinze minutos de duração... e deve ser feito com muito devagarinho e com muita perícia, não vamos acabar com o chão da casa todo estragado e a submissa na ambulância não é...

e o mais importante de tudo é o que se chama o aftercare...

quando se acaba uma sessão, saber como está a pessoa e tratar das "feridas" é quase ou mais importante que a cena em si.
Fala-se do que aconteceu, tem-se biafine à mão... etc...

A teoria é toda deveras interessante, como podes ver e muito aliciante.

Mas toda a gente reage diferente. há muitas pessoas que só querem sentir-se amadas a seguir e que ficam muito ninis e pequeninas.

Há outras que não falam e que querem estar sozinhas a seguir e isso também tem que ser respeitado.
e há muitas que se sentem perturbadas consigo mesmas, como é que gostam tanto de algo que parece ser doente e feio para o comum dos mortais, tanto dar como receber...

Muita coisa a ter em conta...

Espero que tenha sido uma leitura interessante e que de forma alguma tenhas ficado com a impressão de que estive no púlpito a leccionar ou e a pregar...

esta é uma visão muito minha de tudo isto e como tal, haverá certamente outras mil diferentes...e todas certas, como o relógio estragado que pelo menos duas vezes ao dia tem razão no que diz...

Das relações de poder e da dominação/submissão em geral...

Tal como no Santini em relação aos sabores de gelado, dentro deste mundo, tens toda uma variedade de pessoas que assumem toda uma variedade de papeis...

Há homens que são dominantes em todo o lado, na cama, fora dela e só sabem ser assim... da mesma forma que os há paternais e os há submissos...

Os Dominantes, apesar de te colocarem escolhas e falarem contigo para tomarem contigo decisões conjuntas, são eles que têm a última palavra. O safe, sane and consensual entra aqui, na medida em que a parte submissa da equação é sempre ouvida, expressa sempre a sua vontade e sabe que apesar de às vezes não ter a sua vontade feita, que o dominador a quem se entrega terá sempre a sua vontade em conta e fará uma decisão sensata com base em tudo o que está em cima da mesa...

Passamos assim para a noção de limites... e palavras de segurança;

Quando se começa uma relação de jogo de poder, quer seja uma relação só de alcova, para a vida inteira e 24/7 ou de apenas umas horas em cenário de masmorra ou de dominação profissional paga, é sempre uma comunicação que deverá ser franca, aberta e o mais explicita possivel.

Nessa conversa trocam-se cromos de o que é que não gosta, do que se gosta muito de o que são as coisas que até podemos experimentar e vir a gostar.

A isso chamam-se os free limits, os soft limits e os hard limits, em que os hard limits contêm as cenas mais sensatas entre os comuns dos mortais e até mesmo os fetichistas como a necrofilia, a pedofilia, a bestiality... e depois alguns que nunca na vida como por exemplo o scatplay...

(desculpa ser tudo em inglês, mas acho que percebes o porquê)

Uma cena nunca é de improviso... pelo menos no inicio de uma relação ou de uma troca em bdsm...
o Bottom ou submisso/a sabe sempre ao que vai e estabelece-se uma palavra de segurança em que mal pronunciada acontece o que eu chamo de "pára o mundo que eu quero sair"...

Também há o sistema de semáforo, que eu usava e que acho ser muito inteligente, em que por exemplo numa situação de palmadas, o Dom pergunta se estás bem e tu respondes verde para continua que estou a gostar, amarelo para tou a gostar mas aligeira a dor, ou vermelho para não aguento nem mais uma...

A palavra de segurança é uma palavra que não tem nada a ver com o cenário onde estamos, a minha era manga (a fruta), para não ser mal interpretada, porque também se brinca aos nãos que são sins, se é que me faço entender...

Não deve ser usada com leviandade.
Eu nunca usei a minha, e sabemos que deveria, não é verdade...
Mas como eu sentia na altura muitas submissas sentem alguma vergonha em si mesmas em usar, pois significaria de alguma forma que não estavam à altura do seu Dom e que não estavam a servir como deveria...
Hoje em dia acho toda essa ideia uma patetada, mas com 25 anos e muitos livros de principes e princesas, era assim que eu pensava..

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Descoberta...

Lembras-te quando surgiu a internet? e os emails?

Foi por volta de 2000, e como toda a gente tinha um computador na sala, um email no hotmail e estava deslumbrada com a possibilidade de poder falar com toda a gente em tempo real.
Não gostava do mirc, nem de chats em ecran preto, de maneira que acabei nos chats do msn, que eram quase todos americanos e na secção de lifestyle devo ter experimentado todos... até que descobri um que se chamava Dominants and submissives.

Não sabia o que era, mas dizia lá que era um sitio seguro para as meninas e um chat com material de aprendizagem neste meio. Foi assim que fiquei amarrada à cena...
Devo ter lido todos os links que tinham lá disponíveis para aprender sobre todo o mundo do D/s... não me fartava, quanto mais lia, mas queria saber, mais queria falar e expôr os meus pontos de vista e mais romantizada ficava a ideia na minha cabeça de uma relação com papéis muito bem definidos e com muita comunicação entre o casal.
Conheci muita gente do outro lado do oceano, falo bem inglês e isso facilitou, estávamos na altura das webcams e do messenger...

Apaixonei-me por um homem que estava lá...
Disse que não ao pedido de casamento do meu namorado que não se importava que eu falasse com esta gente, mas era tabu, despedi-me, comprei um bilhete e fui conhece-lo cara a cara.
Era para ficar três semanas, fiquei três meses, e depois acabei por ficar um ano e meio.
A relação durou dois anos e meio, quase três.

Comecou por ser D/s, estavamos os dois a comecar a cena, acabou por ser uma relação muito abusiva, com muitas marcas físicas e psicológicas para mim e papéis dos advogados de ambas as partes no final a dizer que não podemos falar um com outro...
Quando voltei ainda tive mais duas relações D/s.
A última muito satisfatória, mas com uma traição que acabou a relação.
Passei muito tempo no psiquiatra por causa da relação abusiva que tive e muito mais na terapeuta, hoje em dia já não vou lá mais a não ser para ir tomar um café com ela...

A minha última relação foi de seis anos e foi baunilha, quis experimentar um cena diferente...para variar...
E é por isso que sei tudo em americano e tenho os livros sobre a matéria em americano e não percebo muito da cena em Portugal...
Já sabes um bocadinho da minha história pessoal...
:-)

Acordando...

Quando me comecei a interessar por este lifestyle, era muito jovem, ainda nem 25 anos tinha, vê lá... e tinha um namorado... o meu primeiro amor à seria... falei-lhe nisto, disse que andava nos sites a ler coisas, a falar com gente e que queria experimentar com ele algumas coisas...

A conversa não correu bem, disse-me que era uma fase minha, que as pessoas com quem falava eram doentes e que se quisesse continuar a falar com elas que não comentasse com ele mais o que fazia online...

Tornou-se tabu...

É muito raro encontrar-se alguém que goste das mesmas coisas que nós neste meio.. mas há cedências de parte a parte e compromissos que se podem assumir.

Sai de uma relação "baunilha" - termo do bdsm para normal... o que é normal???!!!, há menos de um ano.
Foi a primeira relação baunilha que tive depois desse meu namorado antes dos 25.

Sobre o despertar...

Não te sei explicar ao certo o que mexeu comigo em concreto, mas sei que gosto da ideia romantizada de relações à moda antiga em determinados contextos e como sempre fui menina, acho que a dinamica de baby girl Daddy Dom, encaixa muito bem comigo.